Se você cresceu nos anos 80 ou 90, é quase impossível não lembrar do Ki-Suco. Era só jogar o pozinho colorido na água, misturar açúcar e pronto: dois litros de puro sabor (ou química, dependendo do ponto de vista). Mais do que uma bebida, ele foi parte da infância de gerações inteiras. E agora, tenta se reinventar apostando justamente nisso, na memória afetiva de quem guarda boas lembranças da época da merenda com sabor de groselha.
Tudo começou em 1961, quando o produto chegou ao Brasil vindo dos Estados Unidos, onde já era conhecido como Kool-Aid desde 1927. Por aqui, virou febre. Preço baixo, sabores variados, mascote carismático (o famoso Jarrão, versão brasileira do “Pitcher Man”) e campanhas publicitárias que grudaram na cabeça do povo ajudaram a fazer do Ki-Suco o líder absoluto dos refrescos em pó por quase três décadas.
Nos anos 70, 80 e até metade dos 90, era difícil encontrar uma casa brasileira que não tivesse pelo menos um sachê do Ki-Suco guardado. Laranja, uva, framboesa e, claro, groselha, eram os campeões de vendas. As embalagens traziam instruções ilustradas, e ainda vinham com cupons pra trocar por jarros plásticos exclusivos. O sucesso era tanto que até merenda escolar entrava na onda.
Mas tudo mudou em 1987, quando o Tang chegou ao mercado brasileiro com uma proposta mais “moderna”. Aposta em vitaminas, apelo de inovação e até associação com missões espaciais da NASA deram ao concorrente um ar de produto futurista. Enquanto isso, o Ki-Suco se manteve fiel à sua fórmula e à imagem do Jarrão, sem grandes atualizações. Resultado? Perdeu espaço.
A coisa ficou ainda mais difícil nos anos 90. Com a abertura econômica, chegaram novos produtos, os sucos de caixinha começaram a bombar, e os refrigerantes ficaram mais acessíveis. Grandes redes passaram a dominar o varejo, o que empurrou o Ki-Suco para o fundo das prateleiras. De 1994 a 1999, as vendas despencaram mais de 50%, várias fábricas fecharam e a marca simplesmente sumiu do radar.
Só que a saudade é um sentimento poderoso. Nos anos 2000, enquanto o Ki-Suco sumia das lojas, ele ganhava espaço na internet. Fóruns, grupos de redes sociais e perfis nostálgicos começaram a celebrar o pozinho que marcou a infância de tanta gente. E isso não passou despercebido pelas empresas.
Em 2013, a Kraft lançou uma edição limitada do Ki-Suco só pra testar. O sucesso foi tanto que, em 2017, a marca voltou pra valer pelas mãos da Enova Foods, com receita ajustada, menos sódio, vitamina C e o rendimento tradicional de dois litros por envelope. A embalagem ganhou cara nova, mas sem abandonar o jeitinho retrô. As campanhas foram para o digital, com influenciadores, filtros nas redes sociais e até receitas de geladinhos e sobremesas com Ki-Suco.
Mesmo com todos esses esforços, o mercado atual não é fácil. A moda agora são os chás prontos, águas saborizadas e bebidas de baixa caloria. Um estudo da Euromonitor de 2024 mostrou que os refrescos em pó cresceram só 1,7% em volume. Pouco, para quem já foi rei.
Mas a Enova não desistiu. Está investindo em versões individuais de 25 gramas, sabores sazonais como maçã verde, além de reativar presença em mercearias de bairro. E tem até negociação com redes de fast-food pra vender refil de suco em pó nas praças de alimentação, bem mais barato que refrigerante.
O grande trunfo da marca continua sendo o mesmo: a nostalgia. As embalagens estilo anos 80 são disputadas por colecionadores, o Jarrão ganhou versão Funko Pop, e até em festivais nos EUA, na cidade onde o Kool-Aid nasceu, o Ki-Suco brasileiro tem espaço garantido.
No fim das contas, o Ki-Suco pode até não voltar a dominar as prateleiras como antes. Mas se depender da memória e do carinho de quem cresceu com ele, esse pozinho colorido ainda tem muita história pra contar. E você, lembra do seu sabor preferido?