O vício em apostas esportivas está ultrapassando os limites do entretenimento e afetando diretamente o futuro educacional de milhares de jovens no Brasil. Um levantamento feito pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) em parceria com a Educa Insights revelou que mais de 980 mil brasileiros podem deixar de ingressar no ensino superior privado em 2026 por causa dos gastos com bets.
A pesquisa, realizada em março de 2025 com mais de 11 mil entrevistados entre 18 e 35 anos, mostrou um quadro preocupante: boa parte da renda desses jovens está indo para as apostas, comprometendo o orçamento necessário para investir nos estudos.
O impacto é especialmente forte nas regiões Nordeste e Sudeste. No início de 2025, 44% dos nordestinos e 41% dos sudestinos que pretendiam começar uma faculdade adiaram os planos por causa das apostas. Mesmo com uma leve queda nos números no segundo semestre, os percentuais continuam altos: 32% no Nordeste e 27% no Sudeste. Já no Sul e Centro-Oeste, o problema é menos intenso, com índices que não ultrapassam os 18%.
Outro dado alarmante: a frequência de apostas entre jovens subiu de 42,9% para 52% em apenas seis meses. E embora 80% digam gastar até 5% da renda com apostas, nas classes mais baixas esse percentual pode ultrapassar os 10%. Jovens da classe A investem, em média, R$ 1.210 por mês em bets, enquanto nas classes D e E, o valor médio é de R$ 421.
E não são só os que ainda não entraram na faculdade que estão sendo afetados. Cerca de 14% dos alunos matriculados em instituições privadas relataram atrasos nas mensalidades ou trancamento de curso por causa de dívidas com apostas. Entre os estudantes das classes B1 e B2, esse índice sobe para 17%.
A pesquisa também traçou o perfil mais comum dos apostadores: homens de 26 a 35 anos, com filhos, oriundos de escolas públicas e pertencentes às classes C e D. Um grupo vulnerável, que acaba priorizando o risco imediato das apostas em vez do investimento de longo prazo nos estudos.
Entre setembro de 2024 e março de 2025, o número de jovens que desistiram da graduação por conta das bets aumentou 11,4 pontos percentuais. Um sinal claro de que o problema está crescendo em ritmo acelerado.
Para especialistas do setor educacional, o vício em apostas se tornou um obstáculo real para o acesso ao ensino superior privado. E a resposta não pode ser apenas individual. O estudo cobra a criação de políticas públicas para combater o problema com seriedade, desde campanhas de conscientização até formas de proteção financeira para estudantes.
A mensagem é direta: se nada for feito, quase um milhão de jovens pode ter o sonho da faculdade adiado ou até cancelado por causa de um hábito que, de lazer, virou armadilha.