A siderurgia brasileira enfrenta um dos momentos mais críticos da última década. Em 2025, o setor combina três fatores que colocam em risco a sua sustentabilidade: a imposição de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre o aço brasileiro, a entrada recorde de 6,3 milhões de toneladas de aço importado no mercado interno e uma ociosidade de 35% nas usinas, nível muito acima do considerado saudável.

Executivos, distribuidores e representantes do governo se reuniram em São Paulo, durante uma das maiores conferências do setor, para discutir medidas de defesa comercial e estratégias que possam evitar o agravamento da crise.

Tarifas americanas e impacto nas exportações

A decisão do governo norte-americano foi tomada com base na Seção 232 da Lei de Expansão Comercial de 1962, que permite sobretaxas quando importações são consideradas risco à segurança nacional.

Na prática, o aço e o alumínio brasileiros passaram a pagar uma alíquota de 50%, o que encarece o acesso ao mercado dos EUA e força o redirecionamento de embarques para outros países.

O impacto é imediato, sobretudo para os semiacabados, que representam uma parte relevante das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Com preços menos competitivos, contratos estão sendo renegociados ou transferidos para outros mercados, mas sempre com custo logístico e prazos que não acompanham a velocidade da mudança regulatória.

Importações recordes no Brasil pressionam preços

Enquanto o Brasil enfrenta barreiras externas, o mercado interno sofre com a invasão de aço estrangeiro. Em ritmo anualizado, o país importou 6,3 milhões de toneladas em 2025, superando a capacidade de grandes grupos nacionais, como a própria Gerdau.

Esse fluxo elevado está ligado ao excesso de oferta global, especialmente em países asiáticos, e ao câmbio favorável. O resultado é um cenário de preços agressivos, muitas vezes abaixo do valor praticado no mercado doméstico.

Produtores nacionais, para manter participação, foram obrigados a reduzir preços, o que comprimiu margens e levou a uma disputa mais intensa entre usinas e distribuidores. Segundo a associação do setor, em alguns segmentos, as margens “praticamente desapareceram”.

Ociosidade em níveis críticos

Com a entrada de importados e a perda de espaço da produção local, a ociosidade das usinas brasileiras chegou a 35%. Para uma indústria de capital intensivo, esse índice é alarmante, já que o intervalo considerado saudável é de 15% a 20%.

Esse cenário dificulta novos investimentos, ameaça postos de trabalho e leva empresas a adiar manutenções, cortar turnos e renegociar contratos com fornecedores. Executivos alertam que, caso o quadro piore, algumas plantas podem se tornar “inviáveis”.

Conferência em São Paulo expõe urgência

O tema ganhou ainda mais destaque porque coincidiu com a principal conferência do setor, em São Paulo. Durante o encontro, líderes empresariais e autoridades discutiram medidas de defesa comercial, monitoramento mais rigoroso de importações, aplicação de salvaguardas e ajustes tributários para reduzir distorções competitivas.

Também foram debatidas iniciativas para estimular a produção de aços de maior valor agregado, integração com clientes domésticos e contratos de longo prazo, como forma de mitigar os efeitos da volatilidade internacional.

Três vetores que moldam os preços

Especialistas apontam três fatores que devem determinar o rumo dos preços e da competitividade no curto prazo:

  • Câmbio: se o dólar permanecer valorizado, o aço importado perde competitividade, mas exportadores podem compensar com descontos.
  • Tarifas americanas: quanto mais alto o custo para entrar nos EUA, maior o redirecionamento de excedentes para outros mercados, como o Brasil.
  • Oferta global: excedente de aço na Ásia tende a manter pressão sobre preços, afetando a rentabilidade das usinas brasileiras.

Setor cobra resposta do governo

Além da questão tarifária, a indústria cobra atenção para incentivos estaduais que estimulam importações, além da tramitação de processos antidumping. O setor também enfrenta o desafio de manter investimentos em descarbonização e novas tecnologias em um momento de caixa pressionado.

Apesar das dificuldades, o Brasil mantém vantagens competitivas estruturais, como a abundância de minério de ferro e a proximidade de mercados latino-americanos. O desafio, segundo executivos, é atravessar esse período sem destruir capacidade produtiva e preservar competitividade para o próximo ciclo.

Em síntese, a siderurgia brasileira está na corda bamba, pressionada pelo “tarifaço” dos EUA, pelas importações recordes e pela elevada ociosidade industrial. A prioridade agora é buscar medidas que equilibrem o mercado interno e garantam a sobrevivência de usinas estratégicas, evitando que a crise se torne estrutural e comprometa a retomada futura.

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