A tão falada CPI das Bets terminou como muita gente já suspeitava: sem nenhum indiciamento. Por uma votação apertada, quatro votos contra três, os senadores rejeitaram o relatório final da senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), que pedia o indiciamento de 16 nomes, incluindo as influenciadoras Virginia Fonseca e Deolane Bezerra dos Santos.
Esse resultado é algo raro: é a primeira vez em dez anos que uma CPI do Senado chega ao fim sem aprovar nem sequer o relatório final. A senadora Soraya, responsável pelo texto, queria que Virginia e Deolane fossem investigadas por crimes como propaganda enganosa, estelionato, lavagem de dinheiro e por promover apostas ilegais. Mas não conseguiu apoio suficiente entre os colegas da comissão.
Além das acusações, o relatório trazia 20 propostas para tentar frear os impactos negativos dos jogos online. Entre elas, a proibição de jogos parecidos com caça-níqueis, como o famoso “Jogo do Tigrinho”, e a ideia de impedir que pessoas cadastradas no CadÚnico, ou seja, de baixa renda, participem dessas apostas virtuais.
A senadora argumenta que essas apostas online vêm prejudicando o orçamento das famílias mais pobres, levando muita gente a trocar o supermercado por uma “fézinha” que, quase sempre, termina em prejuízo. Ela diz que o consumo caiu justamente porque boa parte da renda tem sido drenada por essas plataformas.
Apesar de derrotada na votação, Soraya disse que não vai deixar barato. Prometeu entregar seu relatório à Polícia Federal, à PGR, ao STF, ao Ministério da Justiça e até ao presidente Lula. “Não vai terminar em pizza, eu não sou pizzaiola”, disparou em entrevista à TV Senado.
A CPI começou em novembro de 2024 e investigou o efeito das bets na vida dos brasileiros. O foco era entender como essas plataformas influenciam o comportamento das famílias, a possível ligação com o crime organizado e o papel dos influenciadores que promovem os jogos.
Virginia Fonseca, que tem quase 53 milhões de seguidores, chegou a admitir, em depoimento, que usava contas falsas para simular ganhos em apostas, numa clara tentativa de influenciar seus fãs. Já Deolane, com mais de 21 milhões de seguidores, foi até presa sob acusação de envolvimento com sites usados para lavagem de dinheiro, algo que ela nega.
As cifras são impressionantes. Só no ano passado, as bets movimentaram entre R$ 89 bilhões e R$ 129 bilhões. É dinheiro que não passa despercebido, nem pela Justiça, nem pelos políticos e, principalmente, pelos influenciadores que lucram com isso.
Mesmo sem desfecho prático, a CPI escancarou um problema que não pode mais ser ignorado: as apostas online estão moldando hábitos, mexendo com o bolso de milhões de brasileiros e colocando celebridades em posições de poder e influência, nem sempre usadas com responsabilidade.