O governo federal confirmou que o BNDES vai financiar emissoras de TV com até R$ 11 bilhões para viabilizar a transição para o padrão TV 3.0, tecnologia que promete transformar a radiodifusão no país com recursos interativos, como votações ao vivo, escolha de ângulos de câmera e até compras durante os programas. O decreto foi assinado nesta terça-feira (19) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A expectativa é que o novo sistema esteja em operação plena até a Copa do Mundo de 2026, mas especialistas alertam que o alto custo pode representar um gasto público bilionário sem garantias de retorno.

Quem poderá acessar o financiamento

O programa prevê que todas as cerca de 600 geradoras e milhares de retransmissoras possam aderir ao novo modelo tecnológico. Para isso, o estatuto do BNDES será alterado, permitindo que empresas de radiodifusão se enquadrem nos critérios de crédito.

Segundo assessores do Planalto, a ideia é enquadrar o projeto dentro do programa de inovação do BNDES, que oferece linhas com juros subsidiados. A medida facilitaria a compra de transmissores e sistemas digitais, reduzindo o peso do investimento inicial para emissoras pequenas e médias.

Quanto custará a transição para a TV 3.0

O custo da migração é elevado. Só as emissoras públicas precisarão investir cerca de R$ 93 milhões em novos equipamentos. No total, a transição pode ultrapassar R$ 11 bilhões, sendo R$ 2 bilhões apenas para substituição de transmissores.

Além das emissoras, os telespectadores também terão gastos. Será necessário comprar televisores compatíveis ou adquirir conversores específicos. Para famílias de baixa renda, o governo deve distribuir kits gratuitos, como ocorreu na transição do sinal analógico.

O que muda com a TV 3.0

A TV 3.0 é considerada uma revolução no setor de comunicação. O novo padrão permitirá:

  • Interatividade em tempo real com votações e enquetes durante programas;
  • Escolha de câmeras e ângulos em transmissões esportivas;
  • Publicidade personalizada, com anúncios adaptados ao perfil de cada telespectador;
  • Integração com e-commerce, permitindo compras diretas pela TV;
  • Acesso a aplicativos governamentais na tela do televisor.

Para as emissoras, o modelo pode abrir novas fontes de receita e ajudar a competir com plataformas de streaming, que hoje dominam parte significativa da audiência e do mercado publicitário.

Especialistas veem riscos no financiamento

Embora o projeto seja estratégico para modernizar a televisão aberta, especialistas alertam que o retorno do investimento é incerto. O setor de radiodifusão enfrenta queda de audiência e perda de espaço para serviços digitais, o que pode limitar a geração de receita adicional.

Há também dúvidas sobre o interesse imediato do público em trocar aparelhos e adotar a tecnologia, o que poderia retardar os ganhos esperados pelas emissoras e aumentar a pressão sobre os cofres públicos.

Governo aposta na modernização

Para o governo, a transição é essencial para manter a relevância da TV aberta no país. Com o apoio do BNDES, a expectativa é garantir que emissoras grandes e pequenas consigam migrar ao novo padrão, evitando desigualdade tecnológica no setor.

O decreto assinado por Lula marca o início de uma corrida contra o tempo: o Brasil tem pouco mais de um ano para implantar a TV 3.0 em escala nacional antes do mundial de 2026.

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