A CPI das Bets chegou ao seu momento decisivo com um relatório explosivo da senadora Soraya Thronicke, que pede o indiciamento de 16 pessoas, entre elas as influenciadoras Virginia Fonseca e Deolane Bezerra, por envolvimento com apostas online suspeitas.
Virginia, que soma milhões de seguidores, foi acusada de publicidade enganosa e estelionato. Segundo o parecer, ela promovia plataformas de apostas com vídeos simulando ganhos irreais, induzindo seguidores a apostar acreditando em lucros fáceis. O documento diz que o público era levado a crer que ela realmente ganhava aquelas quantias, o que seria mentira.
Deolane, por sua vez, é apontada como sócia oculta da casa de apostas ZeroUm, que opera com base em uma liminar judicial, sem autorização oficial. Ela é acusada de lavagem de dinheiro, estelionato, associação a organização criminosa e ainda de usar suas redes sociais para promover a plataforma, como se fosse apenas garota-propaganda, quando na verdade ainda teria controle da empresa.
Os pedidos de indiciamento não significam que os acusados já estão formalmente processados. Cabe ao Ministério Público e à Advocacia-Geral da União decidirem se apresentam ou não denúncias com base no relatório.
O parecer final da CPI detalha ainda como essas plataformas movimentaram bilhões de reais e estariam ligadas a lavagem de dinheiro, manipulação de resultados e exploração ilegal de jogos, além de prejudicar especialmente famílias de baixa renda, que acabam iludidas por promessas de lucro fácil.
Além de Virginia e Deolane, a lista inclui nomes como a ex-BBB Adélia de Jesus Soares, acusada de envolvimento com uma suposta máfia chinesa de apostas; e Marcus Vinicius Freire de Lima e Silva, apontado como o cérebro de um sofisticado esquema de ocultação patrimonial e beneficiário de uma rede que movimentou bilhões com jogos ilegais.
Também foram citados empresários como Jorge Barbosa Dias, dono da MarjoSports, e Bruno Viana Rodrigues, ligado à empresa Brax, acusada de movimentar dinheiro sujo de apostas.
O trio Erlan Ribeiro, Fernando Lima e Toni Macedo é acusado de lavar dinheiro por meio da empresa 7Games. Segundo o relatório, eles usavam o negócio como fachada para ocultar a origem ilegal dos recursos.
Outro nome citado é o da influenciadora Pâmela Drudi, também acusada de enganar seguidores com vídeos simulando ganhos falsos em apostas.
Além dos 16 indiciados, a senadora Soraya recomendou que a empresa Paybrokers seja investigada por atuar como intermediária em transações financeiras ilegais, ligadas a plataformas de apostas online que não têm aval oficial.
A CPI, que passou longe do prestígio político e foi até ironizada dentro do Senado, ouviu influenciadores e gerou polêmica. Teve até senador interrompendo sessão para tirar selfie com Virginia, além de um “tutorial” de como jogar no “Jogo do Tigrinho”, feito pelo influenciador Rico Melquíades.
Mesmo assim, Soraya defendeu o trabalho feito. Segundo ela, a comissão identificou um setor desregulado e descontrolado, que teria movimentado até R$ 129 bilhões só em 2024. Parte desse dinheiro viria de famílias vulneráveis, atraídas por propagandas enganosas.
O relatório também propõe mudanças na lei, como proibir jogos que não estejam ligados a eventos esportivos reais, impedir apostas por quem está no CadÚnico e limitar o horário de funcionamento dos sites de apostas, que só poderiam operar das 19h às 3h.
Outra sugestão é proibir que empresas de apostas abatam em impostos os gastos com marketing, além de criminalizar publicidades enganosas, com pena de até quatro anos de prisão. Há ainda um projeto que veta contratos publicitários que bonificam influenciadores com base nas perdas dos apostadores, a chamada “cláusula da desgraça alheia”.
Agora, a bola está com o Ministério Público. Se as recomendações vão virar denúncia, só o tempo e a Justiça dirão.