Ferramentas de inteligência artificial (IA) podem comprometer a capacidade humana de escrita, impactando desde a criação literária até a comunicação cotidiana. O alerta é do escritor Sérgio Rodrigues, que argumenta que a dependência excessiva da IA para a produção de textos pode levar a um retrocesso civilizatório e intelectual.
Em seu mais recente livro, “Escrever é Humano: Como dar vida à sua escrita em tempo de robôs”, Rodrigues defende a importância de estimular e valorizar a prática da escrita. O autor reconhece o avanço das tecnologias generativas, mas ressalta que os robôs não conseguem replicar as qualidades humanas essenciais para a escrita criativa. Para ele, a criatividade é intrínseca ao ser humano e impossível de ser imitada pela inteligência artificial.
O escritor demonstra preocupação com o impacto da IA no mercado de trabalho, mas seu alerta se estende a outras áreas. Rodrigues teme que a terceirização da escrita para a IA, desde a elaboração de listas de compras até a redação de e-mails, possa levar ao esquecimento da habilidade de escrever. Ele compara a situação à dependência dos celulares para armazenar números de telefone, um conhecimento que se perdeu com a tecnologia.
A escola também é apontada como um ponto de atenção. Sérgio Rodrigues alerta para o risco de que os alunos passem a entregar trabalhos produzidos por IA, prejudicando o desenvolvimento de suas habilidades de escrita. Ele defende que as instituições de ensino devem criar ambientes seguros para o pensamento e a escrita, onde a IA não tenha espaço. O autor cita o exemplo da Finlândia, que baniu os computadores das salas de aula após ter investido neles.
Rodrigues ressalta que a falta de leitura também contribui para a dificuldade de escrita. Ele argumenta que a experiência de leitura literária é fundamental para o desenvolvimento do vocabulário, do senso crítico e da capacidade de expressão. O escritor lamenta que a superficialidade e as fórmulas pré-fabricadas já estivessem presentes na sociedade antes da popularização da IA, e que a ferramenta apenas acelera esse processo.
O autor defende que a família tem um papel fundamental em incentivar a escrita entre os mais jovens, valorizando a leitura e o pensamento crítico. Rodrigues espera que não seja tarde demais para reverter essa tendência e que a IA seja utilizada como ferramenta, e não como substituta da capacidade humana de se expressar por meio da escrita.
Em relação às políticas públicas, Sérgio Rodrigues destaca o desafio da regulamentação da IA, onde os interesses das grandes empresas de tecnologia (big techs) exercem forte pressão. Ele defende que a regulamentação é essencial para garantir que a IA seja utilizada de forma ética e responsável, em benefício da sociedade.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br