O Brasil concentra uma das maiores reservas de terras raras do mundo, estimada em 21 milhões de toneladas, mas as negociações para uma parceria estratégica com os Estados Unidos perderam força após a decisão do governo Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, adotada em agosto, esfriou tratativas que poderiam desafiar o domínio da China na cadeia global de ímãs e minerais críticos.

O peso das reservas brasileiras

Segundo o USGS, o Brasil possui cerca de um quinto das reservas globais de terras raras, insumos fundamentais para tecnologias de ponta, como turbinas eólicas, veículos elétricos, drones e sistemas de defesa.

Ímãs de neodímio e praseodímio, com adição de elementos como térbio e disprósio, são considerados estratégicos para a transição energética e a indústria militar. Hoje, porém, a maior parte da produção brasileira ainda é exportada em forma de concentrado, sendo processada na Ásia, principalmente na China.

Negociações com os EUA

De 2022 a 2024, diplomatas americanos visitaram o Brasil para discutir cooperação em mineração, processamento e fabricação de ímãs. O Brasil buscava financiamento, assistência técnica e compradores estratégicos, enquanto Washington avaliava até mesmo usar a produção nacional para abastecer o Pentágono.

O clima era positivo, e projetos como o Serra Verde, em Minaçu (GO), chegaram a receber aportes de US$ 150 milhões de fundos com capital americano e britânico. No entanto, a nova tarifa decretada por Washington afetou as negociações bilaterais e colocou o tema dos minerais críticos como moeda de troca em disputas comerciais.

Reação do Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu defendendo a soberania sobre os depósitos nacionais:

“Aqui ninguém põe a mão”, declarou em julho, reforçando que qualquer parceria precisa respeitar regras ambientais, conteúdo local e controle nacional sobre a exploração.

Na prática, o Brasil ainda está em fase inicial de industrialização. A produção comercial no projeto Serra Verde começou em 2024, mas o país carece de infraestrutura para separação química, metalização e fabricação de ímãs permanentes.

Programas como o MagBras tentam preencher essa lacuna, unindo universidades, centros de pesquisa e empresas para criar uma cadeia produtiva doméstica.

O domínio da China e a corrida global

Atualmente, a China controla a maior parte do processamento e da manufatura de ímãs, o que preocupa os EUA e aliados. Washington vem tentando diversificar fornecedores desde 2022, inclusive com investimentos diretos na americana MP Materials e em projetos internacionais.

Executivos do setor veem o Brasil como peça-chave nessa disputa. John Prineas, da St. George Mining, que desenvolve projeto em Araxá (MG), destacou:

“Estabelecer uma cadeia de suprimentos fora da China é muito importante, e o Brasil pode ter papel relevante nesse esforço”.

Impasse e perspectivas

Com as tarifas em vigor, o Brasil ampliou o diálogo com Índia e países europeus, além de intensificar estudos geológicos e pilotos industriais. Ainda assim, analistas apontam que a cooperação com os EUA pode voltar à mesa caso as disputas comerciais arrefeçam.

Para especialistas, o avanço depende de três pontos centrais:

  • Estabilidade regulatória e clareza nas regras de exploração.
  • Integração entre minas, plantas de separação e fábricas de ímãs.
  • Alinhamento entre metas socioambientais e atração de capital estrangeiro.

O futuro da parceria

Se prosperasse, a aliança Brasil–EUA poderia acelerar o desenvolvimento de uma indústria nacional de ímãs permanentes e, ao mesmo tempo, reduzir a dependência ocidental da China.

Porém, enquanto os americanos priorizam a segurança de suprimento imediato, o Brasil quer internalizar etapas de maior valor agregado, evitando ficar restrito à exportação de minério bruto.

Em um cenário de disputa global por minerais estratégicos, a definição do modelo de parceria será decisiva para transformar o potencial geológico brasileiro em influência industrial e tecnológica.

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