O Brasil conquistou a primeira posição no ranking global de exportação de algodão, ultrapassando os Estados Unidos e consolidando-se como o maior fornecedor mundial da fibra. O avanço histórico, resultado de uma safra recorde e de ganhos consistentes de produtividade, já gera tensões comerciais, com associações americanas pedindo investigação contra o produto brasileiro.
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA), o país exportou 2,875 milhões de toneladas na temporada 2024/25, volume inédito que reforça a competitividade brasileira. Para a safra 2025/26, a projeção é de 2,97 milhões de toneladas, garantindo a manutenção da liderança.
EUA pedem investigação contra o Brasil
O National Cotton Council (NCC), entidade que representa produtores americanos, solicitou ao Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) a inclusão do algodão brasileiro em uma audiência da Seção 301, mecanismo usado para contestar práticas comerciais que afetem a economia norte-americana.
Os produtores dos EUA alegam que o crescimento brasileiro foi “dramático” e estaria prejudicando sua participação no mercado global.
Tecnologia e sustentabilidade impulsionam o agro brasileiro
Para as entidades brasileiras, a reação americana é consequência direta da competitividade alcançada pelo Brasil. O presidente da ANEA, Dawid Wajs, afirma que o resultado é fruto de investimentos em tecnologia e gestão eficiente.
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) reforça que 92% da área cultivada é sem irrigação, demonstrando eficiência no uso de recursos naturais, e que 85% da produção possui certificação internacional de sustentabilidade, um dos índices mais elevados do mundo. A produtividade nacional chega a ser mais que o dobro da americana por hectare.
Rivalidade histórica no comércio do algodão
A disputa entre Brasil e Estados Unidos não é novidade. Em 2002, o Brasil acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os subsídios concedidos aos produtores americanos. Na época, os EUA destinavam cerca de US$ 3 bilhões anuais em apoio ao setor. A OMC considerou a prática ilegal e autorizou o Brasil a retaliar em até US$ 295 milhões, marcando uma vitória importante para o agronegócio nacional.
Mato Grosso e Bahia lideram a produção brasileira
A liderança do Brasil é impulsionada por estados do Cerrado. O Mato Grosso responde por mais de 70% da produção nacional, seguido pela Bahia, com cerca de 20%. O algodão brasileiro chega a mercados como Vietnã, Paquistão, China, Bangladesh e Turquia.
Nos últimos anos, a participação da China caiu de mais de 50% para 17% nas exportações, reflexo de uma estratégia de diversificação que ampliou a estabilidade comercial do setor, especialmente com o programa Cotton Brazil.
Fibras naturais ganham relevância no debate ambiental
Representantes da ANEA e da Abrapa defendem que o momento deveria incentivar a cooperação internacional para expandir o consumo de fibras naturais. Eles ressaltam que o algodão é uma alternativa sustentável às fibras sintéticas, derivadas do petróleo e associadas à poluição por microplásticos.
Para as entidades, a liderança brasileira não deve ser vista apenas como uma disputa comercial, mas como uma oportunidade global de reduzir impactos ambientais e promover fibras mais saudáveis para consumidores e para o planeta.
Com a marca inédita de maior exportador de algodão do mundo, o Brasil fortalece seu protagonismo no agronegócio internacional e entra em uma nova fase de disputas e negociações com os Estados Unidos.