O agronegócio brasileiro enfrenta o maior nível de endividamento de sua história recente. Mais de R$ 12 bilhões em dívidas atrasadas já foram contabilizados apenas no Banco do Brasil, o que tem reduzido lucros da instituição e acendido o alerta também em bancos privados. A situação é consequência direta da combinação de juros altos, queda nas commodities e restrições externas, fatores que têm pressionado o caixa dos produtores rurais.
Banco Central endurece renegociação de dívidas
As novas regras do Banco Central para o Manual de Crédito Rural dificultaram a prorrogação de prazos. Agora, os bancos precisam comprovar que o produtor enfrenta apenas problemas temporários de caixa e que tem condições de pagar a dívida no futuro.
A exigência inclui a análise de bens que possam ser vendidos, receitas de outras atividades e compromissos financeiros já firmados em cooperativas, tradings e mercado de capitais. Para especialistas, a medida reduz a margem de manobra dos produtores e deve elevar a inadimplência nos próximos meses.
Dívidas já afetam resultados do Banco do Brasil
O Banco do Brasil, que detém a maior carteira de crédito rural do país, com mais de R$ 404 bilhões destinados ao setor, registrou inadimplência de R$ 12,73 bilhões em atrasos superiores a três meses.
Segundo a presidente da instituição, Tarciana Medeiros, trata-se do maior nível de calotes da história do banco no agro. A taxa de inadimplência, que era inferior a 1% em 2023, já se aproxima de 4% em 2024, com maior concentração de atrasos entre sojicultores, produtores de milho e pecuaristas das regiões Centro-Oeste e Sul.
Entre os privados, o Santander admite que os atrasos tendem a crescer sobre sua carteira de R$ 22 bilhões no setor. Já Itaú e Bradesco, que juntos somam cerca de R$ 210 bilhões em crédito rural, dizem manter a situação sob controle, mas reconhecem que o cenário é desafiador.
Juros de 20% ao ano pressionam produtores
Um dos principais obstáculos é o custo elevado do crédito. Com juros que chegam a 20% ao ano, a liquidação das dívidas se torna cada vez mais difícil, especialmente em um cenário de preços das commodities em queda.
Na avaliação de executivos do setor bancário, muitos produtores precisarão desalavancar, vendendo imóveis e máquinas para reduzir a exposição ao endividamento.
De euforia a risco de crise financeira
Até 2023, o agronegócio vivia um momento de expansão, com demanda crescente, preços favoráveis e crédito acessível. Nesse período, houve forte investimento em terras e maquinário, inclusive com captação de recursos no mercado de capitais.
No entanto, a realidade mudou rapidamente. Além da queda nos preços internacionais, produtores enfrentam tarifas externas, custos financeiros elevados e eventos climáticos adversos. Muitos acabaram contraindo dívidas em excesso, sem considerar a volatilidade do setor.
Ajustes e futuro do crédito no agro
Apesar do quadro crítico, analistas avaliam que o setor tem histórico de recuperação. Porém, diferentemente de outras crises, o governo federal hoje dispõe de menos recursos para socorrer produtores.
A recomendação é que agricultores adotem um ajuste financeiro severo, reduzindo dívidas e buscando maior eficiência para atravessar o momento de instabilidade. Caso contrário, o risco é de que o recorde atual de inadimplência evolua para uma crise de crédito generalizada no agronegócio brasileiro.