O Brasil avança rapidamente na produção de etanol de milho e já ameaça a liderança dos Estados Unidos. A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) projeta que o país atinja 10 bilhões de litros na safra 2025/2026, frente aos 8,19 bilhões do ciclo anterior, consolidando o Brasil como segundo maior produtor global, atrás apenas dos americanos.

Esse crescimento é sustentado pela expansão das biorrefinarias e pelo forte papel de Mato Grosso, que lidera a moagem nacional. A transformação do milho em combustível, proteína e energia tem redefinido o agronegócio brasileiro, estimulando investimentos, gerando empregos e ampliando a liquidez do grão no mercado interno.

A força do milho no Brasil

O milho se destaca como matéria-prima por ser armazenável, versátil e com até três safras ao ano. Além do etanol, sua industrialização gera óleo e DDGS (grãos secos de destilaria com solúveis), alternativa proteica ao farelo de soja para nutrição animal.

Nos últimos dez anos, a produção nacional do cereal cresceu 40%, atingindo cerca de 130 milhões de toneladas, segundo a Conab. Esse excedente, antes majoritariamente destinado à exportação, agora ganha valor agregado no mercado interno.

Sinop e a maior refinaria de etanol de milho da América Latina

Às margens da BR-163, em Sinop (MT), está a maior refinaria de etanol de milho da América Latina, operada pela Inpasa. Em 2024, a unidade processou 3,7 bilhões de litros, quase metade do volume nacional, além de produzir 1 milhão de toneladas de DDGS, 105 mil toneladas de óleo e 804 GWh de bioeletricidade.

Uma plataforma digital integra todas as etapas de produção, monitorando resíduos e garantindo eficiência. A biomassa gera energia elétrica suficiente para abastecer a usina e ainda fornece excedente ao Sistema Integrado Nacional (SIN).

Expansão e empregos

A Inpasa emprega 1,2 mil trabalhadores em Sinop e, somadas suas operações em outros estados, já são 2,8 mil empregos diretos. A empresa também constrói uma nova planta em Luís Eduardo Magalhães (BA), com investimento de R$ 4,9 bilhões, ampliando a presença no Nordeste.

Segundo a empresa, a chegada da refinaria incentivou os produtores locais a investir em sementes de melhor qualidade, insumos e tecnologia, transformando o milho em um ativo de maior rentabilidade.

Mato Grosso na liderança

De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), o estado lidera a moagem de milho para etanol, com 12,5 milhões de toneladas em 2025. Mato Grosso do Sul ocupa a segunda posição, com 3,51 milhões, seguido por Goiás, com 2,1 milhões.

Atualmente, 10 das 24 biorrefinarias em operação no Brasil estão em Mato Grosso, enquanto outras 16 estão em construção e mais 16 em fase de projeto.

Investimentos em novas plantas

A cidade de Sorriso (MT) abriga outra gigante do setor, a FS, que processa 4,8 milhões de toneladas de milho e gera 2,3 bilhões de litros de etanol por ano. Produtores locais também investem em novas usinas, como a Etanol Verde do Mato Grosso (Evermat), que recebeu R$ 1 bilhão em aportes privados e terá capacidade para processar 1,2 mil toneladas de milho por dia a partir de março de 2026.

Transformação regional e impacto no agro

O avanço do etanol de milho está mudando a dinâmica agrícola em regiões como o norte de Mato Grosso, onde o grão antes tinha baixa valorização e era cultivado apenas como cobertura de solo. Agora, passou a ser uma das principais fontes de renda dos agricultores.

Além de gerar energia renovável e proteína animal, o setor fortalece a logística regional e promove maior previsibilidade para produtores, que encontram na demanda das refinarias uma alternativa estável ao mercado externo.

Com o crescimento acelerado e novos investimentos em curso, o Brasil consolida o milho como protagonista do seu setor de biocombustíveis. A meta de 10 bilhões de litros em 2026 representa não apenas um avanço energético, mas também uma transformação estrutural do agronegócio nacional, capaz de projetar o país como referência mundial em energia limpa e sustentável.

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