O ano de 2025 marca um ponto de virada no agronegócio brasileiro. Pela primeira vez, contratos de exportação de soja e carne bovina para a China passaram a ser liquidados diretamente em yuan, sem a intermediação do dólar. A mudança, que parecia improvável até pouco tempo, já é realidade para produtores, tradings e frigoríficos.
Com isso, o agro brasileiro se insere de vez no processo de desdolarização do comércio internacional, ao mesmo tempo em que reforça sua dependência da China, responsável por mais de 70% das compras de soja e pela maior parte das importações de carne bovina.
Por que o yuan chegou ao agro brasileiro
Três fatores viabilizaram essa transição:
- O swap cambial de R$ 157 bilhões firmado entre o Banco Central do Brasil e o Banco Popular da China, garantindo liquidez em yuan;
- A instalação de infraestrutura de clearing no Brasil, operada por bancos chineses como o ICBC, que permite liquidações diretas em RMB;
- O interesse do setor privado em reduzir custos cambiais, já que cada contrato em dólar implicava taxas, spreads e exposição à volatilidade da moeda americana.
Para embarques de grande porte, como 60 mil toneladas de soja, a economia pode chegar a milhões de reais apenas pela escolha da moeda de liquidação.
Vantagens para produtores e frigoríficos
Quem já aderiu ao modelo relata benefícios imediatos:
- Mais previsibilidade: contratos em yuan reduzem a exposição ao câmbio do dólar;
- Agilidade: bancos brasileiros já oferecem crédito direto em RMB, acelerando pagamentos;
- Competitividade: exportadores conseguem oferecer preços melhores sem comprometer margens.
O alerta dos economistas
Se, por um lado, o yuan traz eficiência e menores custos, por outro levanta dúvidas sobre sua confiabilidade. Diferente do dólar, moeda conversível e negociada em mercados abertos, o yuan é controlado pelo governo chinês.
Isso significa que a segurança do sistema depende das decisões políticas de Pequim, criando um risco estratégico para o Brasil, cada vez mais atrelado ao parceiro asiático.
Repercussões geopolíticas
O avanço preocupa Washington, que vê bilhões de dólares deixarem de circular pelo sistema americano. Já a União Europeia perde espaço duplamente: como mercado importador de alimentos e como referência monetária no comércio global.
O futuro do agro brasileiro
Grandes tradings já testam contratos em yuan e frigoríficos de ponta estudam expandir a prática. Se consolidado, o Brasil pode se tornar o primeiro grande exportador agrícola a adotar o yuan como moeda dominante em parte da balança comercial.
A dúvida é se o movimento dará ao país maior autonomia financeira ou se criará uma nova dependência estrutural da China.
Em 2025, a mensagem é clara: o dólar perdeu espaço no coração do agro brasileiro — e quem ocupa esse vácuo é o yuan de Pequim.