Ser jornalista na Bolívia tem se tornado uma missão cada vez mais perigosa. Desde o início do ano, profissionais da imprensa vêm enfrentando uma onda crescente de violência, ameaças e tentativas de silenciamento, em meio a uma crise política e econômica que já dura meses. O cenário, que já era tenso, piorou consideravelmente com a aproximação das eleições presidenciais, marcadas para o dia 17 de agosto.
Organizações de defesa da imprensa estão em alerta. A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) foi categórica: o que está acontecendo no país é uma ameaça direta à liberdade de imprensa garantida pela Constituição. Em nota recente, a entidade pediu que o governo boliviano pare de alimentar discursos de ódio contra jornalistas e crie condições seguras para que a categoria possa exercer seu trabalho com dignidade.
Não é só a SIP que está preocupada. A Associação Nacional de Jornalistas da Bolívia (ANPB) e a Associação de Correspondentes da Imprensa Internacional (ACPI) também denunciaram uma escalada nos ataques físicos, perseguições e censura contra profissionais e veículos de comunicação. O que era pressão política virou hostilidade nas ruas e linchamento nas redes sociais.
Uma parte desse ambiente tóxico vem sendo alimentada pelo próprio Evo Morales. Mesmo impedido por decisão judicial de concorrer pela quarta vez à presidência, o ex-presidente insiste em se colocar como vítima e acusa a imprensa de ser parte de um complô para tirá-lo do jogo político. O resultado dessa retórica tem sido desastroso: jornalistas sendo agredidos em estradas, hostilizados em manifestações e intimidados online.
Diante da gravidade da situação, veículos de comunicação e até membros do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia recorreram à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), pedindo proteção após uma série de ameaças feitas por apoiadores de Morales. Os ataques não têm poupado ninguém: até autoridades eleitorais estão no alvo.
Apesar das tentativas de pressionar o sistema, o TSE manteve a lista com dez candidatos oficialmente habilitados para a disputa de agosto, sem a presença de Evo Morales, que teve sua candidatura barrada.
Enquanto isso, a liberdade de imprensa, pilar essencial da democracia, segue cercada. O apelo da SIP, divulgado diretamente de Miami, resume bem o clima: “É urgente que o governo promova um ambiente de respeito, pare de desqualificar a imprensa e garanta segurança para os jornalistas”. Não se trata apenas de proteger uma categoria profissional. Trata-se de proteger o direito de toda a população de ser informada com liberdade e verdade.