O padre Fábio de Melo se viu no centro de uma crise que agora ultrapassou as fronteiras das redes sociais e chegou até o Vaticano. O motivo? Um desentendimento com Jair José Aguiar da Rosa, ex-gerente de uma loja da cafeteria Havanna em Joinville (SC), que acabou demitido após a repercussão de um vídeo gravado pelo religioso.
O caso, que começou em 10 de maio, começou com uma simples compra de dois potes de doce de leite. Segundo o padre, o preço cobrado no caixa estava acima do valor anunciado na prateleira. Ao questionar, ele afirma que foi tratado com “extrema grosseria” pelo gerente da loja.
A situação não ficou só na conversa. Padre Fábio resolveu gravar um vídeo e postou nos seus stories, reclamando do atendimento e citando os direitos do consumidor. O vídeo viralizou, com milhares de visualizações, comentários e compartilhamentos.
Dois dias depois, a cafeteria reconheceu o erro, fez um pedido público de desculpas e anunciou a demissão de Jair, o gerente envolvido.
Só que Jair nega ter falado com o padre. Segundo ele, os dois nunca tiveram contato direto. Jair afirma que a versão que circulou nas redes é distorcida e não corresponde ao que realmente aconteceu na loja.
O caso seguiu ganhando repercussão e, no final de maio, Jair decidiu ir à Justiça. Ele entrou com uma ação cível contra o padre e uma ação trabalhista contra a Havanna, com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores em Turismo, Hospitalidade e Hotéis (Sitratuh).
O advogado de Jair, Eduardo Tocilo, explicou que a cafeteria tentou proteger sua imagem pública, colocando a culpa exclusivamente no gerente. Agora, a Justiça vai avaliar tanto a exposição feita por Fábio de Melo quanto as circunstâncias da demissão.
Além do desgaste jurídico, Jair relatou estar enfrentando graves problemas de saúde mental desde que perdeu o emprego. Em entrevista ao programa Tá na Hora, do SBT, ele contou que teve que trancar a faculdade por causa da depressão e foi diagnosticado com três síndromes relacionadas ao estresse e à exposição pública.
“Minha vida virou de cabeça pra baixo. Não consigo nem sair de casa direito. Tenho medo das pessoas me reconhecerem na rua e me julgarem”, desabafou Jair.
Agora, a história ganhou um novo e inesperado capítulo: uma denúncia formal contra o padre Fábio de Melo foi registrada na Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano. Segundo o jornalista Ricardo Feltrin, a iniciativa partiu de um bispo da região de Joinville, que decidiu relatar o caso às autoridades da Igreja.
Fontes ouvidas garantem que a denúncia está sendo tratada como uma questão disciplinar interna, sem previsão de punições graves. Mesmo assim, o caso pode deixar uma mancha no registro oficial do padre, o que nunca é algo simples dentro da estrutura da Igreja Católica.
Em resposta a toda a polêmica, padre Fábio divulgou uma nota tentando acalmar os ânimos. Disse que nunca teve intenção de prejudicar ninguém e que não carrega “maldade ou desejo de vingança”.
O religioso também fez um apelo por menos julgamentos precipitados: “Vivemos tempos difíceis, em que a verdade é muitas vezes abafada pelo barulho das redes sociais”, escreveu.
Ele finalizou dizendo que prefere estender a mão ao invés de julgar e que segue comprometido com os valores cristãos. “O amor deve sempre prevalecer”, afirmou.
Enquanto isso, a história segue com seus desdobramentos tanto nos tribunais brasileiros quanto nos corredores do Vaticano.