Você já teve a sensação de não conseguir parar de comer aquele chocolate, sorvete ou salgadinho, mesmo sem fome? Não é só falta de força de vontade. Alguns alimentos ultraprocessados ativam áreas do cérebro ligadas à recompensa de forma tão intensa que funcionam quase como drogas, criando um ciclo de prazer e dependência difícil de quebrar.
Isso acontece porque alimentos muito ricos em açúcar, gordura ou sal estimulam a liberação de dopamina, o neurotransmissor do prazer. A mesma substância envolvida no uso de drogas recreativas. O resultado é uma sensação de bem-estar imediato que o cérebro passa a querer repetir — cada vez com porções maiores, para alcançar o mesmo efeito.
A ciência explica: o cérebro humano evoluiu para buscar alimentos energéticos como forma de sobrevivência. Só que os produtos ultraprocessados foram criados para superestimular esse sistema natural de recompensa. Isso torna esses alimentos extremamente atrativos e difíceis de resistir. E mais: com o tempo, o cérebro começa a perder o interesse por alimentos naturais, como frutas, legumes e comidas caseiras.
A junção de açúcar e gordura é especialmente poderosa. Ela ativa os sentidos de forma tão intensa que transforma a comida em “conforto”. Não à toa, doces, frituras, fast-foods e lanches prontos estão sempre ligados à ideia de prazer, alívio ou compensação emocional.
Mas é vício mesmo? Em muitos casos, sim. Embora o vício alimentar não cause sintomas físicos de abstinência tão graves quanto o de drogas, ele provoca mudanças químicas no cérebro muito parecidas. E isso afeta o comportamento: a pessoa perde o controle, come escondido, sente culpa, tenta parar e não consegue. A ciência já reconhece que, em certos contextos, a compulsão alimentar pode ser tão difícil de superar quanto o vício em substâncias ilícitas.
O risco aumenta ainda mais com fatores como:
- Genética e histórico familiar
- Estresse, ansiedade e depressão
- Ambientes com oferta constante de ultraprocessados
- Publicidade agressiva
- Falta de rotina alimentar
Crianças e adolescentes são ainda mais vulneráveis. Crescer cercado de produtos ultraprocessados torna mais fácil cair nesse ciclo de consumo sem perceber.
Identificar o problema é o primeiro passo. Sinais como perda de controle diante de certos alimentos, sensação de culpa após comer e falhas repetidas ao tentar reduzir o consumo são indicativos claros de um padrão compulsivo. Nesses casos, procurar ajuda profissional faz toda a diferença.
Tratamentos envolvem reeducação alimentar, terapia psicológica, prática de exercícios físicos e, muitas vezes, o apoio de familiares. Criar um ambiente alimentar saudável é essencial para sair do automático e retomar o controle sobre as próprias escolhas.
A boa notícia é que, com orientação e apoio, é possível reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, retomar o equilíbrio e melhorar não só a saúde física, mas também a relação emocional com a comida. Afinal, prazer e bem-estar não precisam vir em pacotinhos prontos — e nem custar a sua saúde mental.