No futebol, terminar a temporada invicto costuma ser sinônimo de campanha irretocável. Costuma. Porque às vezes, o “costuma” vira uma pegadinha de mau gosto. E a história tem alguns capítulos bem curiosos e até dolorosos de clubes que passaram o ano inteiro sem perder, mas acabaram sem o título. Tipo bater o ponto certinho e ainda levar bronca do chefe.

A lista vai do glamour da Europa até a realidade bem mais modesta da Moldávia, com um ponto em comum, a frustração de terminar invicto… e vice. Vamos a seis dessas campanhas que desafiaram a lógica e terminaram em decepção.

Benfica (1977/78), saldo cruel em Portugal

Começamos lá atrás, em 1978, com o Benfica, que fez uma campanha impecável em termos de derrotas, nenhuma. Mas isso não impediu o Porto de levantar a taça. Os dois times empataram em pontos, e o critério de desempate era o saldo de gols. O Benfica ficou com um saldo excelente, mas o Porto teve 15 gols a mais. Resultado, vice invicto. Dá até pra imaginar a expressão dos benfiquistas na hora da entrega da taça, tipo quem estudou o ano inteiro e tirou 9,9 porque esqueceu de pôr o nome na prova.

Perugia (1978/79), empate demais, título de menos

Um ano depois, na Itália, foi a vez do Perugia protagonizar uma história parecida. O time simplesmente não perdeu nenhuma das 30 partidas no Calcio, mas… empatou 19 vezes. Ou seja, invicto, porém nada letal. O Milan, que perdeu três jogos, venceu o dobro e ficou com o título. O Perugia terminou o campeonato como o único invicto da Serie A, e também como o mais frustrado.

Galatasaray (1985/86), seca mantida no saldo

O Galatasaray, gigante da Turquia, também tem uma cicatriz dessas. Em 1985/86, o time ficou 36 jogos sem perder, somou 20 vitórias e 16 empates, mas o título foi parar nas mãos do Besiktas, graças a um detalhe dolorido, sete gols a menos de saldo. E o drama fica ainda pior quando lembramos que o Galatasaray já estava há 13 anos sem ser campeão. Essa temporada era pra ser o fim da seca, virou só mais uma seca frustrada.

Estrela Vermelha (2007/08), invencibilidade com gosto amargo de freguesia

Pulando pro século XXI, o Estrela Vermelha viveu seu calvário em 2007/08. O time fez 33 partidas e não perdeu nenhuma. Mas empatou 12. No fim, somou 75 pontos e viu o rival Partizan fazer 80 e levar o título da Sérvia. Pra piorar, essa temporada marcou o começo de uma série de seis títulos seguidos do Partizan, enquanto o Estrela só voltou a levantar o caneco em 2013/14. Ou seja, invicto, vice, e ainda teve que aguentar a fase gloriosa do maior rival.

Al-Ahli (2014/15), campanha quase perfeita, mas sem festa

Em 2014/15, na Arábia Saudita, o Al-Ahli fez de tudo para conquistar o terceiro título nacional. Não perdeu um jogo sequer, somou 17 vitórias e 9 empates, e mesmo assim ficou quatro pontos atrás do Al-Nassr, que perdeu duas vezes, mas venceu mais. A campanha do Ahli foi consistente, mas faltou aquele “algo a mais” nos confrontos diretos e nos jogos decisivos. E aí, mais uma invencibilidade com gosto de nada.

Sheriff (2024/25), a mais bizarra de todas

Pra fechar, talvez o caso mais absurdo dessa lista, o Sheriff Tiraspol, na temporada moldava recém-encerrada, em 2024/25. O time atropelou na primeira fase, 11 vitórias e três empates em 14 jogos. Mas aí veio o hexagonal final, onde zeraram os pontos. E o Sheriff seguiu invicto, com cinco vitórias e cinco empates. Problema, os empates foram demais e o FC Milsami Orhei, que tinha sido quinto na primeira fase, fez um pontinho a mais e ficou com o título. Um verdadeiro roteiro de tragédia esportiva moldava.

Fica a lição, no futebol, ser invicto é bonito no papel, mas se não vencer o suficiente, vira só uma estatística melancólica. Como aquele aluno que tira dez em todos os trabalhos, mas não aparece na prova final.

Compartilhar.