Cientistas estão emitindo um alerta urgente sobre uma ameaça que pode passar despercebida, mas tem potencial para provocar uma crise sanitária global: fungos letais, como os da família Aspergillus, estão se expandindo para novas regiões devido ao avanço do aquecimento global.

Esses microrganismos, que já causam milhões de infecções graves todos os anos, podem se tornar ainda mais perigosos conforme o planeta esquenta. Estudos indicam que o aumento das temperaturas está permitindo que espécies como o Aspergillus fumigatus e o Aspergillus flavus alcancem áreas antes inóspitas na Europa, Ásia e Américas, afetando diretamente a saúde de populações que nunca estiveram expostas a esses patógenos.

Segundo o pesquisador Van Rhijn, da Universidade de Manchester e membro do Wellcome Trust, as mudanças climáticas estão transformando o cenário das doenças infecciosas em escala continental. “Em 50 anos, o que cresce e com o que você se infecta será completamente diferente”, afirmou o especialista, que estuda infecções fúngicas há anos.

De acordo com o relatório de 2023 dos Jardins Botânicos Reais de Kew, no Reino Unido, mais de 90% das espécies de fungos ainda são desconhecidas pela ciência, o que levanta preocupações sobre quantas dessas espécies podem representar novas ameaças à saúde humana. Estima-se que 3,8 milhões de pessoas morram por ano devido a infecções fúngicas invasivas, sendo que em 2,5 milhões desses casos os fungos são os principais responsáveis.

Entre as doenças mais preocupantes está a aspergilose, uma infecção pulmonar que pode migrar para o cérebro e outros órgãos. Ela é causada pela inalação de esporos do Aspergillus e frequentemente passa despercebida por profissionais de saúde, o que leva a diagnósticos tardios ou até mesmo inexistentes. A situação se agrava diante da escassez de tratamentos eficazes e da crescente resistência aos medicamentos antifúngicos.

A própria Organização Mundial da Saúde classificou o Aspergillus fumigatus como um dos quatro patógenos fúngicos mais críticos para a saúde global. Pesquisas recentes mostram que, se as emissões de combustíveis fósseis não forem controladas, esse fungo poderá se expandir para um território 77% maior até o fim do século, impactando diretamente mais de 9 milhões de pessoas só na Europa.

O Aspergillus flavus, por sua vez, poderá aumentar sua presença em 16%, alcançando áreas frias e antes protegidas como o norte da China, Rússia, Escandinávia e Alasca.

O cenário é claro: o aquecimento global não ameaça apenas o clima, mas também a saúde humana de maneira profunda e invisível. Com os fungos se adaptando a novas condições ambientais, os especialistas reforçam que o mundo precisa agir agora para evitar uma nova e silenciosa epidemia global.

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