A coxinha é praticamente um patrimônio afetivo do brasileiro, mas o pastel, com seu formato democrático e recheios infinitos, também não fica atrás. A disputa entre esses dois salgados icônicos vai muito além do balcão da padaria. Ela divide famílias, provoca discussões acaloradas no recreio e até desafia leis não escritas de qual combina melhor com caldo de cana. Estamos falando de uma verdadeira guerra de salgados. E como toda boa guerra, essa também tem seu campo de batalha: a lanchonete da esquina.
Vamos começar pela coxinha, aquela bolinha dourada com bico, recheada de frango desfiado e envolta em uma massa macia, quase sempre feita com batata. Ela é a queridinha das festas infantis, o salva-vidas das padarias às cinco da tarde e a favorita de quem gosta de comer com uma só mão enquanto segura a mochila ou o celular com a outra. A coxinha tem uma espécie de sofisticação disfarçada. É compacta, elegante, e apesar de ser frita, raramente se entrega à oleosidade exagerada. Sem contar o suspense do recheio. Ele pode vir com catupiry, com cheddar ou até com carne seca. Mas seja como for, quando bem feita, a coxinha tem a textura certa para conquistar qualquer paladar.
Do outro lado da trincheira estão os pastéis. Os salgadões anarquistas que não se contentam com um único formato nem com um só tipo de recheio. Eles podem ser quadrados, retangulares, gigantescos, com queijo escorrendo pelas bordas ou recheados com uma feijoada inteira, dependendo do humor do pasteleiro. O pastel é o símbolo da feira livre, o parceiro oficial do caldo de cana e o favorito dos aventureiros gastronômicos. Enquanto a coxinha exige técnica e precisão, o pastel celebra o improviso. Recheios inusitados como banana com canela, estrogonofe ou até hot dog são comuns, e muitas vezes deliciosos.
Mas não é só no sabor que a batalha esquenta. O pastel tem a vantagem do tamanho e da crocância. Aquela primeira mordida que estala no ouvido já garante pontos na competição. Ele também é mais generoso, mais fácil de dividir e geralmente mais barato, considerando a proporção recheio versus massa. A coxinha, por sua vez, tem apelo emocional. É o salgado da infância, da merenda, da festa da escola. Quando bem feita, é um monumento à simplicidade perfeita. Massa leve, frango bem temperado, empanamento dourado e uniforme.
No quesito portabilidade, a coxinha ganha de lavada. Você pode enfiá-la na bolsa, com ou sem guardanapo, levar para o cinema escondida ou comer no ônibus sem grandes riscos. O pastel, com seu recheio escaldante e suas bordas que se esfarelam com o vento, exige logística, duas mãos e uma toalhinha de papel reforçada.
E no campo das preferências populares? A disputa é acirrada. A coxinha reina nas vitrines refrigeradas e nas festas, mas o pastel domina as feiras e os food trucks. A primeira é quase sempre a mesma. Ainda que com variações de recheio, ela não muda de formato. Já o pastel se reinventa toda semana, sempre pronto para surpreender ou decepcionar com alguma novidade ousada.
No fim das contas, tentar decidir quem manda mais, as coxinhas ou os pastéis, é como perguntar se o samba é melhor que o forró. A resposta depende do humor, da ocasião e da fome. Mas uma coisa é certa. Em qualquer esquina do Brasil, um desses dois estará lá, esperando você escolher um lado nessa guerra deliciosa. Boa sorte.