Por muito tempo, alunos em escolas de todo o Brasil acreditaram que a parte azul da borracha bicolor havia sido criada para apagar tinta de caneta. A cena era clássica: depois de escrever errado, vinha a tentativa frustrada de esfregar a borracha até o papel rasgar ou ficar manchado. O que poucos sabiam é que esse uso nunca foi a função real do produto.
Na verdade, a parte azul da borracha tem uma composição diferente e abrasiva, feita com cristais de pedra-pomes. O objetivo não é apagar a tinta, mas desgastar a superfície do papel até reduzir marcas mais profundas. O mito, que atravessou gerações, ajudou a criar uma das maiores confusões sobre material escolar.
O que realmente faz a parte azul da borracha
Enquanto a parte vermelha (ou branca) é macia e indicada para papéis comuns, como folhas de caderno, a parte azul foi desenvolvida para situações mais específicas. Ela é mais rígida, áspera e pode ser usada em:
- Papéis grossos e resistentes, como cartolinas e papéis para desenho técnico.
- Folhas com textura, que dificultam o apagamento de grafite comum.
- Marcas profundas de lápis ou lapiseira, quando o grafite adere às fibras do papel.
Esse atrito maior pode até remover parte da tinta de caneta, mas o efeito é apenas um borrão, já que o pigmento penetra nas fibras do papel. Por isso, a promessa de apagar caneta nunca se confirmou na prática.
Por que surgiu o mito da caneta
O mito nasceu no final da década de 1930, quando a empresa brasileira Mercur lançou a borracha bicolor chamada Prima. Na época, o grande desafio era corrigir erros feitos com tinta de tinteiro, já que ainda não existiam corretivos líquidos ou fitas corretivas.
A composição abrasiva da parte azul permitia raspar a camada do papel, reduzindo a intensidade da mancha. Isso dava a impressão de que a tinta havia sido “apagada”, quando, na verdade, o papel apenas havia sido desgastado.
Com o passar do tempo, essa ideia se espalhou pelas escolas e virou senso comum. Muitos professores e alunos acreditaram na fama da borracha “que apagava caneta”, reforçando um mito que persiste até hoje.
Curiosidades sobre a borracha Prima
- O nome “Prima” era uma gíria da época para se referir a algo de primeira qualidade.
- Criada em 1938, a borracha rapidamente se tornou um item obrigatório nos estojos escolares.
- Seu design de duas cores se popularizou mundialmente e ainda hoje é referência no setor.
- Apesar da fama equivocada, a parte azul continua sendo útil em trabalhos de desenho e superfícies mais grossas.
Diferença entre os lados da borracha
- Lado vermelho ou branco: macio, ideal para apagar lápis em folhas finas de caderno.
- Lado azul: abrasivo, indicado para papéis técnicos, cartolinas e trabalhos artísticos.
É justamente essa diferença que fez a borracha se tornar um clássico escolar: versátil para diferentes tipos de papel, embora muitas vezes usada de forma incorreta.
O que usar para apagar caneta de verdade
Se a sua ideia é corrigir erros de caneta, o melhor caminho é apostar em produtos desenvolvidos para isso. Entre as opções mais eficazes estão:
- Corretivo líquido, o famoso “branquinho”.
- Fita corretiva, prática e sem tempo de secagem.
- Borracha química própria para caneta, que funciona em alguns tipos de tinta.
Esses métodos são muito mais seguros e não danificam a folha como a fricção da parte azul da borracha.
Você provavelmente usou errado a vida toda
A crença de que a parte azul da borracha servia para apagar caneta foi passada de geração em geração, reforçada por professores, pais e até fabricantes que, por marketing, deixaram o mito circular. Mas a verdade é que sua função sempre foi outra: atuar em papéis mais grossos e resistentes, raspando o excesso de grafite ou marcas superficiais.
Saber disso ajuda a entender por que tantas tentativas terminaram com papéis rasgados e borrões. E, mesmo que não apague tinta, a parte azul da borracha segue útil até hoje, desde que usada no tipo certo de papel.