Duas mortes em menos de uma semana dentro de escolas públicas do Paraná acenderam o alerta máximo sobre a saúde dos educadores. As professoras Silvaneide Monteiro Andrade e Rosane Maria Bobato faleceram durante o expediente, ambas em colégios estaduais de Curitiba. Os casos, ocorridos em um intervalo de seis dias, geraram forte comoção e reacenderam o debate sobre a exaustão mental e física dos profissionais da educação.

Silvaneide morreu na sexta-feira (30), dentro do Colégio Estadual Jayme Canet, após sofrer um infarto fulminante. Seis dias depois, foi a vez de Rosane passar mal enquanto lecionava no Colégio Santa Gemma Galgani. Ela foi levada para a coordenação, mas também não resistiu.

Com a repercussão, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) anunciou a ampliação do programa “Bem Cuidar”, criado em 2022, que agora promete atendimento médico e psicológico a todos os professores da rede. Entre as medidas divulgadas estão a criação de um número 0800 para acolhimento emocional, exames periódicos em todos os municípios e reforço nos atendimentos com os 203 psicólogos já atuando nos Núcleos Regionais de Educação.

Silvaneide Monteiro Andrade e Rosane Maria Bobato eram professoras da rede pública e morreram durante expediente. — Foto: APP-Sindicato

A APP-Sindicato, que representa os professores, afirma que as mortes escancaram um cenário já denunciado há tempos: pressão excessiva, assédio moral e metas inalcançáveis impostas por plataformas educacionais do governo. “O que está adoecendo os professores é um modelo de gestão que ignora as reais condições de trabalho”, afirma a entidade.

Embora a Seed declare que o uso das plataformas seja facultativo, a realidade relatada por professores e diretores aponta o contrário. Em muitos casos, a cobrança para interações digitais tem sido intensa, ampliando a sobrecarga de quem já lida com salas lotadas, violência escolar e falta de estrutura.

Apesar de haver uma lei estadual (nº 14.992/2006) que prevê um programa específico de saúde mental para docentes, o projeto jamais saiu do papel. Tentativas alternativas partiram dos próprios professores, que criaram comissões de saúde em escolas a partir de 2019, mapeando os danos causados pelo ambiente de trabalho.

Diante da gravidade dos episódios recentes, cresce a pressão por ações concretas, não apenas promessas e discursos institucionais. A comunidade escolar exige mais do que números: quer respeito, prevenção real e políticas públicas que enxerguem o educador como ser humano, e não apenas como número em uma meta.

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