Tem coisa mais deprê do que ouvir o Fantástico acabar? Ou abrir o olho na segunda às sete da manhã com o despertador gritando como um general mal-humorado? Domingo à noite e segunda-feira disputam o título de momento mais triste da semana com uma intensidade digna de final de campeonato. Mas afinal, qual desses dois pesa mais na alma?
Domingo à noite é traiçoeiro. Até o meio da tarde, o clima ainda é de fim de semana. Mas quando o sol começa a descer, bate aquela sensação agridoce. A comida ainda pode ser boa, o sofá continua confortável, mas o cérebro já começa a fazer contas: o que ficou pendente, o que vai rolar amanhã, quanto tempo até as próximas férias. É o momento oficial do “começa a bater”. Mesmo sem ter acontecido nada de ruim, o corpo se prepara para uma batalha mental que ainda nem começou. E é justamente essa antecipação que dói. Uma espécie de ansiedade embalada em silêncio, com gosto de pizza requentada e trilha sonora de encerramento de programa dominical.
Já a segunda-feira é menos sutil. Não tem aquele charme triste do domingo, não tem preparo emocional, não tem tempo pra drama. Ela chega e já exige produtividade, decisões, cara de responsável. É o tapa na cara logo cedo. O trânsito tá pior, o e-mail tá lotado, o café parece mais fraco. Tudo conspira pra lembrar que o descanso acabou e a rotina voltou com força total. Segunda-feira não engana. Ela não dá espaço pra esperança ou ilusão. É a realidade nua, crua e pontualmente irritante.
Mas olha só: enquanto a segunda já é conhecida como vilã universal, o domingo à noite pega no ponto fraco. Ele mistura melancolia com nostalgia, preguiça com culpa. Muita gente até prefere encarar logo a segunda do que passar pelo limbo emocional do fim de domingo. É como se a tristeza de domingo à noite fosse mais poética, mas também mais profunda. Já a segunda, por pior que seja, pelo menos passa — depois das 10 da manhã, o piloto automático assume, e a vida segue.
Se for pra pesar em termos emocionais, domingo à noite tem uma vantagem cruel. Ele rouba o prazer do próprio descanso. É um ladrão de finais felizes. A segunda é chata, cansativa, mas pelo menos sincera. Dá pra reagir, dá pra lutar. O domingo à noite não. Ele só observa de longe, com um sorrisinho cínico, enquanto você se despede do fim de semana com aquele nó no peito.
No placar da tristeza, domingo à noite ganha por pontos. Porque a dor da segunda é prática, mas a do domingo é existencial. E não tem despertador que prepare alguém pra isso.