Lula e Macron trocaram farpas diplomáticas nesta quinta-feira (5) em Paris, e o palco foi a guerra entre Rússia e Ucrânia. Durante uma coletiva de imprensa, o presidente brasileiro defendeu uma abordagem mais neutra, mas ouviu do presidente francês uma resposta curta, direta e incisiva: “Só Moscou rejeita a paz”.

Lula tentou equilibrar. Disse que o Brasil condena a invasão russa, mas também é contra a guerra como um todo. Ele lembrou que, junto com China e outros 13 países emergentes, o Brasil apresentou uma proposta de paz. A ideia, segundo Lula, é juntar um grupo de nações para discutir uma saída pacífica para o conflito.

Mas Macron não deixou passar. Para ele, não existe neutralidade quando há um agressor e um agredido. O presidente francês foi categórico: a Ucrânia aceitou cessar-fogo proposto pelos Estados Unidos. Já Putin continua se recusando a parar os ataques. “Ele iniciou a guerra e não quer um cessar-fogo”, cravou Macron.

Lula também criticou o papel da ONU, dizendo que a organização está politicamente enfraquecida e sem poder real para agir em conflitos. “Não apenas nessa guerra, mas em qualquer outra que aconteça no mundo”, disse o presidente brasileiro.

O contraste ficou ainda mais evidente porque, no mês passado, Lula esteve em Moscou ao lado de Vladimir Putin, durante o desfile dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra. A presença ao lado de líderes como Xi Jinping (China), Díaz-Canel (Cuba) e Lukashenko (Bielorrússia) rendeu críticas da oposição no Brasil.

Questionado na época, Lula respondeu com desdém: “Se tudo for exploração política, você não pode fazer nada”. E garantiu que sua presença ao lado de Putin não compromete sua tentativa de atuar como mediador da paz.

Só que, diante da fala firme de Macron, ficou claro que essa neutralidade tem sido vista com desconfiança por aliados ocidentais. Para a França, não dá para colocar Ucrânia e Rússia no mesmo patamar quando só um dos lados quer parar de lutar.

O episódio mostra como o Brasil tenta se posicionar como pacificador no cenário internacional, mas também como essa postura enfrenta barreiras quando o assunto é guerra, invasão e responsabilização clara. Enquanto Lula defende diálogo e diplomacia, Macron quer deixar claro: a culpa, para ele, tem nome e endereço, Moscou.

Compartilhar.