A ideia parece revolucionária: um carro que roda com água. Simples, barato, sustentável. Mas a verdade é que essa história não se sustenta quando entra em cena a ciência.

A água, por mais comum que seja, é uma molécula extremamente estável. Formada por hidrogênio e oxigênio, ela não carrega energia suficiente para mover um carro diretamente. Para isso, seria necessário quebrar suas moléculas e separar os gases, um processo que gasta mais energia do que consegue produzir depois. Ou seja, no fim das contas, não compensa.

Essa teoria de carros movidos a água bate de frente com as leis da termodinâmica, que basicamente dizem que não dá para criar energia do nada. Então, qualquer promessa de veículo que funcione com água pura como combustível direto soa bonito, mas esbarra na física. Seria o mesmo que tentar construir uma máquina de movimento perpétuo, algo que, até hoje, é cientificamente impossível.

Mas isso não significa que a água esteja totalmente fora dos planos da mobilidade do futuro. Pelo contrário. Existe uma tecnologia real e avançada que parte do hidrogênio presente na água para mover carros: os veículos com célula de combustível de hidrogênio, conhecidos como FCVs.

Ao contrário do mito dos carros a água, os FCVs não usam água como combustível, e sim hidrogênio puro, armazenado em tanques de alta pressão. Dentro do veículo, esse hidrogênio reage com o oxigênio do ar numa célula de combustível, gerando eletricidade. O resultado? Um carro que se move com eficiência e emite apenas água como subproduto.

Modelos como o Toyota Mirai e o Hyundai Nexo já rodam por aí, com autonomia superior a 600 km e reabastecimento em poucos minutos. Além disso, como não soltam poluentes, ajudam a melhorar a qualidade do ar nas cidades.

Claro que ainda há desafios. O custo dos veículos é alto, e a infraestrutura de abastecimento de hidrogênio é muito limitada. Para piorar, a maior parte do hidrogênio produzido hoje ainda vem de combustíveis fósseis, o que diminui o impacto positivo no meio ambiente.

A saída está no chamado hidrogênio verde, obtido pela eletrólise da água usando energia renovável, como solar ou eólica. E é aí que o Brasil entra com vantagem. Com sol, vento e água de sobra, o país tem potencial para liderar essa produção no mundo.

O futuro da mobilidade com hidrogênio ainda é cheio de obstáculos, mas também de possibilidades. Para virar realidade em larga escala, será preciso investimento, tecnologia e políticas públicas. Enquanto isso, carros movidos diretamente a água seguem sendo apenas uma boa ideia que não passa no teste da física. Mas a busca por alternativas limpas e sustentáveis, essa sim, já está em movimento, e o hidrogênio pode ser o próximo combustível da nova era.

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