O café, um dos queridinhos do brasileiro, tem sido também um dos maiores vilões da inflação. Segundo o IBGE, o preço do café moído subiu 81,6% nos últimos 12 meses, ficando atrás apenas da conta de luz no ranking dos itens que mais pesaram no bolso em junho. Só no mês passado, a alta foi de 2,86%.
Mas há uma luz no fim da xícara: no campo, os preços começaram a cair. O valor médio do café arábica, o mais consumido e produzido no país, despencou 17% entre fevereiro e junho, depois de bater recorde histórico de preço no início do ano.
Apesar dessa queda nas fazendas, o alívio no supermercado ainda vai demorar. Economistas explicam que o repasse de preços ao consumidor é lento, já que o café passa por vários processos antes de chegar às gôndolas: colheita, secagem, torra, embalagem e distribuição. A expectativa é que o consumidor comece a sentir a diferença só no segundo semestre, e aos poucos.
Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio, estima que em 60 a 90 dias deve haver uma queda mais perceptível no preço final, mas alerta: não espere voltar aos valores de antes de 2024. A queda será gradual, e o café deve continuar caro no acumulado do ano.
O analista Fernando Maximiliano, da StoneX Brasil, reforça: “a inflação vai diminuir mês a mês, mas o produto seguirá com preço alto quando olharmos os últimos 12 meses”.
O principal motivo para a queda nas cotações, segundo os especialistas, é o avanço da colheita no Brasil, que começou em março e atinge seu pico agora, em junho e julho. A safra de café robusta deve crescer 28% neste ciclo, graças à irrigação eficiente no Espírito Santo e na Bahia. Já a colheita do arábica deve encolher 6,6%, impactada por secas.
Outro fator que pressionou os preços no começo do ano foi a alta nas exportações brasileiras, que ultrapassaram 50 milhões de sacas em 2024, deixando os estoques baixos para 2025. Essa explosão nas vendas ocorreu porque a produção do Vietnã caiu, e conflitos no Oriente Médio afetaram o transporte marítimo, mudando a rota do café asiático para a Europa.
Além disso, muitas empresas europeias correram para comprar café do Brasil no fim de 2024, com medo de uma nova legislação que restringe importações de áreas desmatadas. Resultado: a demanda aumentou, e os preços explodiram.
Agora, com a normalização da colheita no Brasil e a recuperação de safras no Sudeste Asiático, os preços no campo começam a ceder. Mas até esse movimento chegar à prateleira, o café vai continuar amargo no bolso do consumidor.