As Cataratas do Iguaçu, um dos cenários mais deslumbrantes da América do Sul, acabam de ganhar um novo título: o de palco de uma civilização perdida que existiu ali milhares de anos antes de Colombo sequer sonhar em cruzar o Atlântico.

Pesquisadores descobriram vestígios de uma ocupação humana que remonta a cerca de 6 mil anos atrás, na região que hoje fica entre a fronteira do Brasil com a Argentina. A novidade tem mexido com a comunidade arqueológica e despertado a curiosidade de quem gosta de história, justamente por revelar um pedaço até então desconhecido do passado sul-americano.

A investigação que trouxe essa surpresa começou a ganhar força em 2019, quando equipes de arqueólogos passaram a escavar áreas próximas a rios e riachos dentro do Parque Nacional do Iguaçu. O que parecia só mais uma análise de solo acabou mostrando camadas profundas com fragmentos de carvão, ferramentas de pedra e ossos de animais, todos indicando que grupos humanos já viviam, caçavam e usavam o fogo naquela região há milênios.

Com a ajuda de testes de carbono 14, os cientistas conseguiram datar os achados mais antigos: aproximadamente 6 mil anos. Além desses primeiros sinais de vida, também surgiram objetos como pontas de flecha, machados e facas de pedra, com idades variando entre 2 mil e 4 mil anos. Esses artefatos mostram que a região foi morada de caçadores-coletores, que dependiam da floresta e dos rios para garantir o sustento.

As escavações foram feitas em áreas de mata fechada, em barrancos que, graças à conservação natural, guardaram o material arqueológico por todo esse tempo. Para os estudiosos, os antigos moradores das Cataratas tinham um estilo de vida bastante adaptado ao ambiente. Usavam madeira para o fogo, caçavam animais silvestres e fabricavam suas ferramentas com pedras encontradas por ali mesmo.

Com o passar do tempo, outro grupo deixou sua marca por lá: os guaranis, conhecidos por suas aldeias organizadas, agricultura e produção de cerâmica. Eles não apenas cultivavam alimentos como também pescavam e tinham uma relação intensa com o ambiente da floresta, deixando rastros que ainda podem ser vistos nas escavações.

Para os arqueólogos, o valor dessas descobertas vai muito além das peças encontradas. O que está em jogo é uma reescrita da ocupação humana na América do Sul antes da chegada dos europeus. Os achados reforçam a diversidade cultural da região ao longo dos milênios e mostram que as Cataratas do Iguaçu foram muito mais do que apenas um cenário natural: foram também palco de diferentes modos de vida, estratégias de sobrevivência e ocupações humanas ao longo de gerações.

Além do impacto histórico, a pesquisa também chama atenção para a importância da preservação ambiental. Foi justamente a vegetação densa e a geografia local que ajudaram a proteger esses vestígios por tanto tempo.

Com os trabalhos de campo ainda em andamento, os pesquisadores estão otimistas com o que ainda pode vir por aí. As Cataratas, que já encantavam turistas do mundo todo pela beleza, agora ganham um novo status: o de um dos sítios arqueológicos mais importantes para entender a história pré-colonial da América do Sul.

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