O Senado aprovou nesta quarta-feira (2) uma medida provisória que mexe direto no bolso de quem trabalha com carteira assinada na iniciativa privada e também de quem vive de aplicativo. O chamado “Crédito do Trabalhador” já movimentou mais de R$ 14 bilhões entre março e junho, principalmente entre quem recebe até quatro salários mínimos.
A proposta é vendida como inclusão financeira e impulso à economia. Mas especialistas estão com um pé atrás. A preocupação é clara: esse tipo de crédito pode jogar ainda mais gente no buraco do endividamento. Isso porque ele permite comprometer até 35% do salário com parcelas fixas. E, pra piorar, o trabalhador ainda usa o FGTS como garantia, o que reduz a segurança em momentos de aperto, como uma demissão ou problema de saúde.
Outro ponto que acende o alerta é a liberação desse consignado para motoristas e entregadores de aplicativos. Nesse caso, os empréstimos só saem se houver convênio entre as plataformas e os bancos. Na prática, isso pode restringir o acesso de muitos e abrir brecha para cláusulas abusivas, num setor que já sofre com a falta de regras claras e proteção trabalhista.
Para analistas financeiros, a medida até ajuda a movimentar o consumo no curto prazo. Mas sem educação financeira e sem controle sobre os juros, o risco é criar um cenário crônico: milhões de trabalhadores com o salário comprometido e poucas saídas para escapar das dívidas.
Mesmo com os alertas, o governo está animado com a repercussão e trata a medida como estratégica e, claro, popular entre a base trabalhadora. Críticos, porém, enxergam um uso mais político do que técnico na proposta, e questionam se houve de fato um planejamento para evitar que o crédito vire um peso a mais na vida de quem já anda no limite.