A Síria viveu mais um domingo de terror no último dia 22 de junho, quando um ataque suicida dentro de uma igreja em Damasco matou pelo menos 25 pessoas e deixou cerca de 50 feridos. O alvo foi a Igreja Mar-Elias, um templo grego-ortodoxo onde fiéis estavam reunidos em oração no momento da explosão.
O responsável pela tragédia foi um homem ligado ao Estado Islâmico (EI). Segundo autoridades locais, ele entrou no templo, lançou uma granada e logo em seguida detonou os explosivos presos ao próprio corpo. Testemunhas relataram ainda ter visto outros suspeitos nas imediações da igreja, mas essa informação não foi confirmada oficialmente até agora.
Esse foi o primeiro atentado suicida em território sírio desde a queda do regime de Bashar al-Assad e a chegada ao poder do novo presidente interino, Ahmed al-Sharaa, líder do grupo militante HTS. O episódio expõe as enormes dificuldades que a nova administração enfrenta para garantir a segurança e a estabilidade no país, que já soma mais de uma década de conflitos internos.
A explosão em pleno coração da capital é vista com preocupação porque, até então, o EI concentrava suas ações violentas nas regiões desérticas do leste da Síria. Agora, a presença do grupo em Damasco acende o alerta de que o Estado Islâmico está tentando se reorganizar e ampliar seu campo de atuação.
O ministro do Interior sírio, Anas Khattab, foi direto ao afirmar que “estes ataques terroristas não impedirão o estado sírio de buscar a paz civil”. Mas a realidade nas ruas é outra: o ceticismo da população com a capacidade do novo governo em proteger as minorias religiosas só aumenta.
Historicamente, o EI tem um longo histórico de violência contra minorias na Síria. Um dos episódios mais letais aconteceu em 2016, quando um atentado em Sayyida Zeinab, cidade sagrada para os xiitas, deixou 71 mortos e 110 feridos.
Mesmo após a queda do califado do EI, com derrotas sucessivas para forças sírias, curdas e tropas americanas, células do grupo continuam ativas e apostam na estratégia de atacar minorias e espalhar o medo. O vácuo de poder deixado pela mudança de governo em dezembro passado parece ter dado novo fôlego às ações extremistas.
Antes do ataque à igreja, a Síria já havia registrado outras tentativas de atentados neste ano. Em maio, o EI assumiu a autoria de uma explosão na cidade de Mayadin, que matou cinco pessoas. E no início de 2025, o governo anunciou ter conseguido evitar um ataque a um santuário xiita nos subúrbios de Damasco.
Apesar das promessas da nova administração de garantir a segurança de todas as comunidades religiosas, os sírios ainda desconfiam. Um exemplo dessa tensão foi o massacre ocorrido em março, quando milícias sunitas aliadas ao governo atacaram alauítas na região costeira do país.
O atentado deste domingo escancara que o caminho para a paz na Síria ainda está longe. E o avanço de grupos como o Estado Islâmico só reforça a sensação de vulnerabilidade que paira sobre a população.