O britânico Vishwash Kumar Ramesh, de 40 anos, mal acredita que está vivo. Ele é, até agora, o único sobrevivente do voo AI171 da Air India, que caiu logo após decolar, matando mais de 290 pessoas, segundo a polícia indiana. Ainda deitado em uma maca no Hospital Civil de Ahmedabad, Vishwash falou ao Hindustan Times sobre os momentos de puro terror que viveu.

“Trinta segundos depois da decolagem, ouvi um barulho alto e, em seguida, o avião caiu. Tudo aconteceu muito rápido”, contou ele, com ferimentos nos olhos, peito e pés. Mesmo machucado, Vishwash conseguiu se levantar e correr por entre os destroços do avião. “Havia corpos por todos os lados. Fiquei em pânico.”

Segundo os médicos do hospital, ele foi arremessado para fora da aeronave, caiu desorientado e foi socorrido por pessoas que o levaram a uma ambulância. Vídeos exibidos em canais indianos mostram Vishwash ensanguentado, tentando se afastar do local do acidente, enquanto alguns corriam para ajudá-lo.

Vishwash estava na Índia para visitar a família e voltava para Londres com o irmão, Ajay Kumar Ramesh, de 45 anos. Os dois estavam sentados em fileiras separadas no avião. Após o acidente, Vishwash fez uma videochamada para o pai: “O avião caiu. Não sei onde meu irmão está. Não vejo outros passageiros”, contou o irmão mais velho, Nayan, à Sky News.

Ainda internado e abalado, Vishwash fez um apelo emocionado: “Visitamos Diu juntos. Ele viajava comigo, e agora não consigo encontrá-lo. Por favor, me ajudem a achá-lo.”

A tragédia aconteceu com um Boeing 787-8 Dreamliner, considerado uma das aeronaves mais modernas e seguras da frota da Air India. Mas a confiabilidade do modelo agora está sendo questionada. Câmeras de segurança registraram fumaça já na decolagem. O avião perdeu altitude pouco depois de sair da pista e acabou caindo perto do terminal, atingindo pelo menos três prédios. Em seguida, pegou fogo.

Esse é o primeiro acidente fatal envolvendo esse modelo desde sua estreia em 2011. O 787-8 é conhecido por seu conforto, menor consumo de combustível e fuselagem em materiais mais leves, como a fibra de carbono. A Air India usa esse avião principalmente em rotas internacionais de longa distância.

Apesar da reputação de segurança, o modelo já havia sido alvo de uma investigação da autoridade de aviação dos EUA (FAA) em 2024. Um engenheiro da própria Boeing levantou dúvidas sobre a fixação de partes da fuselagem, que poderiam se soltar em pleno voo com o tempo.

A queda do AI171 se soma a um histórico recente complicado para a Boeing. A empresa ainda enfrenta os desdobramentos jurídicos dos dois desastres com o 737 Max em 2018 e 2019, que deixaram 346 mortos. Um acordo com o Departamento de Justiça dos EUA tenta isentar a fabricante de responsabilidade criminal, mas famílias das vítimas estão contestando.

Enquanto isso, em Londres, onde o avião deveria ter pousado, o primeiro-ministro Keir Starmer disse que as imagens do acidente eram “devastadoras”. O rei Charles III e a rainha Camilla também expressaram choque e solidariedade às famílias. Em nota, o monarca elogiou os esforços heroicos dos socorristas no que chamou de “um momento doloroso e traumático”.

A história de Vishwash é um raro sopro de vida em meio à tragédia, um sobrevivente que, ainda atordoado, tenta entender como escapou de algo que, para quase 300 pessoas, não teve volta.

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