A redação do Portal Catanduvas em Foco foi procurada por professores da rede municipal de ensino para divulgar uma carta aberta à comunidade. O documento, assinado coletivamente, denuncia a crise enfrentada pela categoria, marcada pela sobrecarga emocional, falta de respeito em sala de aula e, principalmente, a ausência de respaldo por parte dos pais.

Segundo os docentes, a escola tem sido cobrada por responsabilidades que ultrapassam seu papel, enquanto as famílias, que antes exerciam autoridade na educação dos filhos, hoje se afastam e até desautorizam o trabalho do professor. “Os pais perderam o pulso”, diz um trecho da carta.

Apesar do cenário preocupante descrito, os professores reforçam que continuam recebendo apoio da administração municipal por meio da Secretaria de Educação, mas alertam que a situação exige também a participação ativa da comunidade e das famílias para que a escola volte a cumprir com plenitude seu papel de ensinar.

A manifestação não tem caráter partidário nem institucional, mas busca chamar a atenção da sociedade para a realidade atual das salas de aula.

Confira abaixo a carta na íntegra:

CATANDUVAS/ JUNHO DE 2025

CARTA ABERTA DOS PROFESSORES

“Atualmente educação está marcada por desafios, desafios estes diferentes daqueles que tínhamos antes. São outras preocupações, são outras responsabilidades? São situações as quais estão se tornando impossíveis de as gerenciar, causando um caos.

Antes, os pais tinham total controle sobre a educação dos filhos, muitas vezes deixando marcas profundas e traumas. Hoje, porém, vemos o oposto: os pais perderam o pulso para educar e acabaram criando pequenos reis, que fazem o que querem sem limites ou responsabilidades.

Nas escolas tudo mudou também, aquela profissão de respeito, “o mestre”, aquele tinha total autoridade, aquele que a sociedade respeitava e o tinha como uma das mais nobres profissões, ficou para trás. Já não podemos mais exigir que as normas da escola se façam cumprir: sobre comportamento, pontualidade, respeito e cuidados, realizar as atividades com capricho, tarefa de casa… nada mais é como antes.

Os professores estão tão sobrecarregados, com indisciplina, salas cheias de alunos de alunos com necessidades especiais, laudos diferentes, especificidades diferentes, que os relatórios os conteúdos deixaram de ser a nossa maior preocupação. Pais exigindo de nós o que eles não conseguem fazer com um em casa, temos que dar conta com 20 ou 30 alunos em sala, e a dar a atenção especial ao “seu filho”. Somos hoje aqueles os quais sobrevivem com idas e vindas a psicólogos, psiquiatras e remédios.

Não vai ser formação continuada de professores, e nem mesmo a melhoria dos espaços físicos e matérias didáticos ou quaisquer recursos que irá resolver, a educação está vivendo um desafio complexo, que requer ações conjuntas da sociedade e comunidade escolar. É necessário um esforço contínuo para melhorar a qualidade do ensino, retomando a verdadeira função da escola que é ensinar e não educar.

E todos nós sabemos que existem muitos profissionais qualificados para isso, os quais ensinam por meio de projetos, teatros, de maneira diversificada, que vão em busca e fazem acontecer. Professores que estão preocupados com um desempenho de alunos com dificuldades fazendo encaminhamentos adaptando material sempre ajustando da melhor maneira para que os alunos consigam aprender. Somos uma das poucas profissões que o trabalho não acaba com bater o sinal (não acaba nas 20 horas semanais), levamos provas, trabalhos para correção em casa, atendemos pais a noite e nos finais de semana, perguntado por mensagens: sobre a blusa que o filho perdeu; sobre a dúvida que ficou com a atividade; sobre como resolvemos essa ou aquela situação.

Sentimos que, atualmente, não podemos mais corrigir ou chamar a atenção dos alunos, tampouco exigir que cumpram as regras e realizem as atividades. Muitos pais nos rotulam como autoritários e reclamam de qualquer cobrança feita em sala de aula, induzindo seus filhos a questionar nossas atitudes e a nos verem como opressores. Isso tudo nos leva a um cansaço emocional diário, pois nos sentimos impotentes diante dessas situações. Temos a absoluta certeza que não há excessos de cobrança, mas sim um mínimo para conseguirmos estar a frente desta turma e cumprir com a nossa missão de ensinar. Já não é o conteúdo o que mais nos preocupa, mas sim a pressão psicológica, as ameaças e a sensação de insegurança e desvalorização que pairam sobre nós.

Precisamos de apoio. Precisamos que nosso trabalho de educar e orientar seja respeitado. Precisamos ser ouvidos, ter respaldo e contar com a compreensão da sociedade. Precisamos, acima de tudo, de coragem para continuar cumprindo nosso papel essencial de educadores. Socorro, urgente!”

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