Frango assado é quase sinônimo de domingo em família no Brasil. A cena é clássica: aquela bandeja engordurada da padaria, o cheiro que invade o carro, o arroz branco já no fogo e a farofa esperando seu momento de brilhar. Mas será que o trono do almoço dominical está mesmo garantido? Porque a lasanha, com suas camadas generosas de massa, queijo derretido e molho de tomate borbulhante, não veio ao mundo para brincar em serviço.

De um lado temos o frango assado, o rei da praticidade. Barato, democrático e já vem pronto, um verdadeiro alívio para quem não quer encarar o fogão em pleno dia de descanso. Não é à toa que a rotisseria da esquina tem fila desde as nove da manhã. Frango com farofa, vinagrete e aquele arroz soltinho é a tríade sagrada de muitos lares brasileiros, especialmente quando se quer alimentar uma tropa com pouco gasto e sem drama.

Do outro lado está a lasanha, que embora não seja tão prática, tem um poder quase cinematográfico. Só de abrir o forno e ver o queijo borbulhar, muita gente já sente que o domingo valeu a pena. É prato de ocasião, de festa, de visita importante. E diferente do frango assado, que quase sempre vem igual, a lasanha é cheia de possibilidades. Bolonhesa, frango com catupiry, quatro queijos ou até versões vegetarianas. Cada família tem a sua receita e sua treta sobre o melhor recheio.

No quesito relação emocional, a disputa é acirrada. O frango assado carrega o gosto da infância, dos domingos apressados, das avós que já não estão mais aqui. Mas a lasanha traz o peso do capricho, do esforço coletivo. Alguém prepara a massa, outro cuida do molho, e assim o almoço vira evento. Um é símbolo de rotina confortável, o outro de celebração familiar.

Curiosamente, os dois compartilham uma característica essencial: são melhores no dia seguinte. O frango frio vira sanduíche de respeito, e a lasanha amanhecida ganha um sabor quase místico, mais encorpado, mais reconfortante. Só por isso já valeria a briga pelo último pedaço.

Mas se a disputa fosse decidida pelo estômago, talvez o frango assado levasse vantagem. Ele é mais leve, mais fácil de digerir, agrada desde a criança ao tio do pavê. Já a lasanha, convenhamos, é deliciosa, mas deixa aquele peso. Emocional e gástrico. É comida que exige sofá depois, e de preferência, um filme ruim na TV.

A preferência do brasileiro pode variar conforme o contexto. Se é almoço rápido, frango. Se é comemoração, lasanha. Nas pesquisas informais da vida real, leia-se redes sociais e conversas de grupo de WhatsApp, o empate é constante. Mas se fosse preciso arriscar um palpite, talvez o frango assado ainda seja o queridinho, pela praticidade e ubiquidade. Só que a lasanha, ah, a lasanha tem a alma do exagero que o brasileiro tanto ama.

No fim, o Brasil talvez seja mesmo um país dividido entre o frango da padaria e a lasanha da mãe. E como toda boa disputa gastronômica, essa não precisa de vencedor. Só de um bom apetite.

Compartilhar.